Considerado por décadas como um mercado quase que totalmente de nicho, o segmento gamer vem crescendo rapidamente nos últimos quatro anos. Diversos fatores contribuem diretamente para esse crescimento, desde a maior exposição do público geral aos eSports, com transmissões de torneios como o IEM de CS2 pela TV e YouTube, ao próprio aumento na oferta de games com mais representatividade e temas próximos da realidade de mais usuários.
Segundo relatório recente do Statista, entre hardware, software e serviços, a indústria de jogos gerou uma receita global de US$ 406 bilhões em 2023, contra US$ 361 bilhões em 2022. Ou seja, os games passaram a entrar na lista de prioridades de muitos usuários como um investimento em lazer e cultura, reforçando a ideia de que eles são, sim, para todos, desconstruindo estigmas que, no fundo, nunca fizeram sentido.
Isso porque, além do fator entretenimento, praticamente todos os jogos são criados em cima de mecanismos que replicam habilidades lógicas, motoras, sociais, ou todas elas combinadas em algum grau. Essa verdade é ainda mais notável em RPGs, que geralmente nos dão liberdade para criar personagens que podem desde refletir quem somos — ou gostaríamos de ser — a até personalidades diametralmente opostas, quase como um exercício de projeção epsicanálise.
Os cenários ricos trazem histórias extremamente bem escritas e cheias de ramificações conforme as escolhas que fazemos ao longo da jornada. Pegando o exemplo mais recente de Baldur’s Gate 3, é possível superar um mesmo desafio com um combate extremamente tático e bem articulado, ou simplesmente na conversa.
Tudo depende de como o personagem foi desenvolvido, e essas escolhas quase são lembradas mais para frente, impactando como e quando a história irá terminar. Do ponto de vista educacional, esse aspecto, por si só, faz dos RPGs excelentes ambientes controlados para auxiliar a desenvolver pensamento crítico, capacidade de solução de problemas e uma série de soft skills essenciais, seja na vida social, seja no trabalho.
Além disso, há a possibilidade de reviver aquela mesma aventura com um personagem diferente, com outras habilidades, ou de realizar escolhas diferentes das que faríamos naturalmente. Dessa forma, também é possível ter nesses games um elemento terapêutico e catártico, extravasando alguns sentimentos de forma saudável, além de ser um ótimo exercício sobre tomar decisões difíceis e lidar com as respectivas consequências, gloriosas ou trágicas.
Ainda pensando no caráter social dos games, comunidades em plataformas como Discord e Twitch, permitem que os gamers engajem com marcas, criadores de conteúdo, e entre si, criando espaços seguros e com forte senso de pertencimento e acolhimento.
Games são para todos, e o acesso também precisa ser
Naturalmente, enquanto ferramentas de desenvolvimento social, para que os games sejam, de fato, para todos, eles precisam ser, antes de mais nada, acessíveis. De nada adianta um jogo sensacional repleto de mecanismos para auxiliar as pessoas serem o que elas quiserem, se ele não alcançar o grande público e ficar restrito a pequenas bolhas de usuários.
Tanto que a própria indústria vem investindo cada vez mais em iniciativas ativas de inclusão para alcançar mais usuários, como controles adaptados para gamers com mobilidade reduzida, e até organizações de caridade especializadas na criação de equipamentos e assessórios para jogadores com diferentes tipos de deficiência.
Pensando novamente no tamanho desse mercado, apenas o setor de hardware saltou de uma receita US$ 114 bilhões para US$ 145 bilhões entre 2020 e o início de 2024, mostrando que as pessoas também estão investindo mais em plataformas para jogar. Um fator que contribui para esses números é, justamente, que mais dispositivos, principalmente no segmento de notebooks, estão chegando ao mercado já com bom desempenho em jogos, mesmo não tendo sido fabricados necessariamente para esse propósito.
As novas gerações de processadores e gráficos integrados já conseguem rodar games em boa qualidade sem a necessidade de placas de vídeo dedicadas. Isso também permite miniaturizar ainda mais os sistemas gamer, abrindo caminho para cada vez mais consoles portáteis, combinando a praticidade dos smartphones com o desempenho de PCs gamer de entrada.
Com isso, a tendência é que muitos usuários que tiveram sua primeira experiência gamer no setor mobile durante a pandemia, migrem para sistemas mais robustos, dando acesso a games proporcionalmente mais complexos. Para democratizar ainda mais o acesso, são cada vez mais comuns as campanhas que apelam para todos os usuários, tanto os veteranos como quem está chegando agora a esse universo, enfatizando que, na prática, todos já somosgamers.
Mais que nunca, o game é para todos, tanto pelo seu caráter de lazer, quanto por colaborar no desenvolvimento de habilidades sociais, lógicas, e na própria formação da personalidade de cada um. Por essa razão, defender essa ideia também implica em trabalhar para que todos consigam aproveitar esses benefícios, seja em um super PC gamer, em um console, ou em um notebook levinho que pode ser levado para qualquer lugar, carregando a experiência gamer debaixo do braço.
Fonte: Canaltech
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